Saturday, July 08, 2006

*****O BRILHO DA NOITE E A MACIEZ DAS PLUMAS REVELAM O GLAMUR DO TEATRO DE REVISTA******.






*****O BRILHO DA NOITE E A MACIEZ DAS PLUMAS REVELAM O GLAMUR DO TEATRO DE REVISTA******.

Durou um século o reinado, nos palcos do centro do Rio de Janeiro, de um gênero do qual todo mundo ouviu falar: o teatro de revista. Desde o fim da década de 1850 até o início dos anos 1960, o bom humor, a sátira política, a boa música e as mulheres bonitas encheram os olhos de várias gerações de brasileiros. Como o auge ocorreu antes da era do vídeo, há hoje poucos registros guardados — fotografias amareladas em arquivos particulares e poucos depoimentos gravados nos museus.

A falha de registro é corrigida agora pelo pesquisador Delson Antunes, que morou muito tempo em Brasília e hoje está radicado no Rio. Delson fez mestrado na Uni-Rio e dedicou-se ao teatro popular feito pela companhia de Jardel Jércolis na primeira metade do século 20. Defendeu a dissertação mas, convidado pela Funarte, ampliou a pesquisa para desvendar, com poucos textos e muitas fotografias, o que foi o teatro de revista no Brasil.

O leitor de Fora do Sério — Um Panorama do Teatro de Revista no Brasil, livro agora lançado por Antunes, ficará sabendo que foram os portugueses que trouxeram o gênero para o teatro brasileiro. Do fim do século 19 até a década de 1920, era um teatro baseado na força do texto, com peças escritas por nomes como Artur Azevedo. A partir de então, houve mais equilíbrio entre texto e encenação, com cuidado maior com figurinos, cenários, coreografia e interpretação. Grandes nomes da música brasileira começaram a lançar suas músicas nos palcos de revista.

O auge do gênero foi até a década de 1940. Depois, ganharam espaço o visual arrojado e as mulheres seminuas, perdendo terreno a crítica social. Foi a época de nomes que tiveram projeção nacional, como as vedetes Elvira Pagã, Mara Rúbia, Luz del Fuego e a preferida do presidente Getúlio Vargas, Virgínia Lane.

Na década de 1960, o gênero sucumbiu quase que totalmente — desde então, montagens esparsas, como a do Theatro Musical Brasileiro 3, no ano passado, relembram as famosas vedetes e os ágeis números cômicos.

Delson Antunes registra no livro o alvoroço da Praça Tiradentes, no centro do Rio, que chegou a ter 30 teatros dedicados à revista. Alguns, como o Teatro Recreio, foram demolidos pelo regime militar. O gênero teve desempenho bem mais fraco em São Paulo, onde predominava o ‘‘teatro caipira’’ — e, sem a mesma repercussão que tinha na capital do país, há notícias de montagens em Manaus, Porto Alegre e Belo Horizonte, entre outras cidades.

Nu recatado
Para as gerações mais novas, teatro de revista é sinônimo de mulheres nuas. Mas a nudez só apareceu nos palcos em 1922, numa excursão da companhia francesa Bataclan. O nu ganhou logo regras específicas. Na segunda metade da década de 1920, só as vedetes estrangeiras podiam tirar a roupa. Depois, o ‘‘privilégio’’ foi estendido às brasileiras, com uma condição: tinha de ser a chamada ‘‘nudez estática’’, com as mulheres nuas no palco, mas sem se mexer. Os estrangeiros, aliás, dominaram o gênero por muito tempo — as primeiras mulatas das revistas eram gregas e espanholas.

Anúncios de jornais chamavam o público para um ‘‘espetáculo para a família’’. Mas as mulheres nunca estavam na platéia. As vedetes, muitas menores de idade, iam para o teatro acompanhadas das mães. Havia sessões todos os dias. Quinta, sábado e domingo, eram até cinco apresentações consecutivas.

Um time respeitável de atores conhecidos começou no teatro de revista. Primeiro, atrizes como Henriqueta Brieba e Elza Gomes. Depois, Grande Otelo, Oscarito, Agildo Ribeiro, Dorinha Duval e Dercy Gonçalves, entre outros. Até Leila Diniz e Marília Pera experimentaram o gênero — Marília foi corista (bailarina do coro, não era vedete).

‘‘O humor brasileiro originou-se na revista’’, afirma Delson Antunes. Ele cita como ‘‘crias’’ do gênero programas de televisão como Casseta & Planeta Urgente e A Praça É Nossa, por causa do improviso e do escracho. ‘‘Regina Casé, por exemplo, é bem revisteira’’, exemplifica. Isso sem contar os shows das mulatas de Sargentelli, acepipe servido aos turistas, que recuperaram durante muito tempo o tom feérico do gênero.

Ao revisitar o teatro de revista, o pesquisador se animou a continuar o resgate desta comédia popular. Um dos planos é realizar um documentário. Outra idéia é montar uma peça, contando a história do gênero em universidades e escolas de teatro. E registrar a manifestação cultural que hoje sobrevive nos arquivos da atriz Tânia Bôscoli (filha de Jardel Filho e neta de Jardel Jércolis), da Biblioteca Nacional, Arquivo Nacional, acervo da Funarte e do Museu da Imagem e do Som.

******REFERËNCIA BIBLIOGRAFICA******

Cláudio Ferreira
Da equipe do Correio Braziliense
http://divirta-se.correioweb.com.br/livros.htm?codigo=566

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